11 de fevereiro: Dia Internacional das Mulheres e Meninas na Ciência
Terça-feira, 30 de março de 2021
Última modificação: Terça-feira, 30 de março de 2021
Três pós-graduandas do CEFET-MG relatam os desafios e as experiências por serem mulheres no mundo acadêmico
O Dia Internacional das Mulheres e Meninas na Ciência é comemorado em 11 de fevereiro. A data levanta reflexões sobre as conquistas delas no meio acadêmico, mais especificamente na pós-graduação, os desafios e as perspectivas. Segundo dados da Capes, em 2019, 54% dos estudantes brasileiros bolsistas em cursos de pós-graduação eram do sexo feminino e; em 2020, elas representaram 58% do total de bolsistas stricto sensu.
Apesar de muitas conquistas na área científica, como a maior inserção em cursos predominantemente masculinos, as mulheres ainda enfrentam muitos desafios e precisam se superar a cada dia, seja se posicionando a partir de suas convicções ou tendo que conciliar vida profissional com os cuidados com os filhos e a casa. Um levantamento realizado pelo Movimento Parent in Science sobre a produtividade acadêmica durante a pandemia relacionada às questões de gênero, raça e parentalidade, mostrou que entre as alunas que são mães menos de 10% conseguiram seguir com suas dissertações e teses neste momento, enquanto 20% dos pais obtiveram êxito e 35% dos homens e mulheres sem filhos estão conseguindo seguir normalmente.
A pesquisa foi realizada entre abril e maio de 2020, com participação de cerca de 10 mil alunos de pós-graduação de todo o Brasil. O estudo é o primeiro a fornecer dados conclusivos sobre as forças que impulsionam o desequilíbrio de produtividade na ciência durante a pandemia.
A mestranda de Administração do CEFET-MG Hellen Marquezini, 36 anos, feminista negra e amefricana, pesquisadora dos modos de organizar e a construção da identidade racial em uma comunidade remanescente quilombola, enfrentou obstáculos por ser mulher negra e cientista. “É preciso ressaltar que a academia, ainda que um espaço de construção do saber, é um espaço hegemônico. Ainda que haja ocupação de mulheres nesses espaços, ocorre a prevalência masculina branca. Não dá para desconsiderar que o espaço acadêmico é espelho da esfera social, que historicamente nega o espaço da mulher, sobretudo da mulher negra”, afirmou.
Ela ressalta ainda a luta diária para conciliar os cuidados com o lar, família, trabalho e pesquisa. “Tenho o privilégio de ter um parceiro que compartilha integralmente essas vivências, o que torna a experiência mais leve. Mas esta não é uma realidade para todas as mulheres. Conciliar a pesquisa com a jornada doméstica e a maternidade é um grande desafio e devem ser adotadas medidas para minimizar essa discrepância”, explica.
Como Hellen, a mestranda de Engenharia Civil Ablail Paula Pinheiro, 24 anos, não tem filhos, mas passou por situações que precisou se posicionar no ambiente acadêmico. “Um dos desafios que enfrento é para ser respeitada, às vezes foi necessário fechar a cara e falar bem séria para algumas pessoas entenderem que eu estava desenvolvendo minha função de pesquisadora e o local de pesquisa não tinha espaço para assédio”, afirma Ablail.
Um relato que impactou Ablail sobre a mulher e a ciência aconteceu com uma colega que é mãe. “Quando foi participar da entrevista para entrar no mestrado, pouquíssimo se falou do currículo. A maior parte do tempo foi gasta com os entrevistadores querendo saber quem cuidaria do filho dela, então com 3 anos, enquanto estivesse fazendo mestrado. Não consigo acreditar que qualquer homem tenha passado por algo similar, mesmo sendo pai”, explica.
Tathiana Rodrigues, 29 anos, doutoranda em Engenharia Civil enfrentou situações parecidas. “Por ser mulher, é muito mais difícil que te ouçam, que levem em consideração alguma ideia sua. Isso não ocorre apenas na ciência, mas de uma maneira geral. Nós vivemos em um país extremamente machista, e, independente do que escolhamos fazer e/ou ser, vai ser necessário, infelizmente, um esforço muito maior do que um homem precisaria pra alcançar reconhecimento. Já ouvi falarem ‘que para uma mulher eu sou muito inteligente’; outra vez um aluno da graduação tentou me explicar o método que uso no meu doutorado como se eu não soubesse do que ele estava falando. O interessante é que ele fez isso sabendo qual é meu doutorado, ou seja, foi um caso clássico de mansplaining”, explica Tathiana.
Mesmo com os desafios, Hellen, Ablail e Tathiana buscam o mesmo objetivo: trabalhar com ciência. “Concluir o mestrado é a concretização de um sonho, é dizer para mim mesma que sou capaz de pesquisar e ter resultados que podem contribuir para construção sustentável. A maior barreira foi a pandemia, já que, com ela, não poderia mais ir ao CEFET-MG onde eu tenho acesso a toda estrutura para pesquisa e a ausência de aula durante alguns meses. Eu e minha orientadora tivemos que reinventar as nossas reuniões e refazer o cronograma de pesquisa”, destaca Ablail.
“Sempre quis me tornar professora e pesquisadora. Sempre me imaginei ajudando a descobrir algo que seja relevante para a sociedade e ensinando outras pessoas. Então, concluir o doutorado, pra mim, é concluir mais uma etapa rumo à realização do que eu sempre quis profissionalmente para minha vida”, conclui Tathiana.
“Concluir o mestrado é a concretização de todo o esforço e sacrifício investidos. Fui a primeira da minha família a ter um curso superior e em breve serei a primeira mestra. Significa muito para mim e para minha família. Além disso, espero que sirva de inspiração para que outras mulheres negras possam se aproximar dessa história, identificar pautas comuns, e utilizar a educação como instrumento para impulsionar suas próprias conquistas”, conclui Hellen.
Coordenação de Jornalismo e Conteúdo – SECOM/ CEFET-MG